Vídeo de hino polêmico na formação da Polícia Militar de MS gera críticas e investigações
Um vídeo divulgado entre quinta e sexta-feira que mostra alunos da 38ª turma da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul cantando um hino com conteúdo considerado agressivo e com apologia à tortura provocou ampla repercussão e polêmica no estado.
No vídeo, os soldados recém-formados entoam frases que fazem referência a violência extrema, como “bate na cara, espanca até morrer”, “arranca a cabeça e joga pra lá” e “PM que cancela CPF”, uma expressão popular que remete à eliminação de criminosos.
Reações divididas e posicionamentos oficiais
Nas redes sociais, o conteúdo gerou opiniões polarizadas. Muitos apoiadores da Polícia Militar defenderam o hino como uma demonstração de firmeza no combate ao crime. Por outro lado, entidades de defesa dos direitos humanos, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ministério Público e Defensoria Pública do Estado, emitiram notas de repúdio.
A OAB qualificou o conteúdo como “apologia explícita à violência e ao arbítrio, incompatíveis com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública”, alertando para os riscos que esse tipo de discurso representa para os direitos humanos e para populações vulneráveis.
O Ministério Público acompanha as apurações e declarou que analisará o caso para tomar as medidas cabíveis. A Defensoria Pública classificou o episódio como uma “afronta ao Estado Democrático de Direito”.
Governo abre sindicância e Polícia Militar se manifesta
O Governo do Estado anunciou a abertura de uma sindicância para investigar os responsáveis e apurar o conteúdo do vídeo. Em nota, reforçou que “a expressão utilizada não foi criada pela Instituição Polícia Militar e tampouco faz parte de seus protocolos oficiais”. Segundo o governo, a formação inclui disciplinas que valorizam a vida, o respeito às minorias e a atuação comunitária.
Debate público e defesa da corporação
O deputado e ex-comandante da Polícia Militar, Coronel Davi, divulgou um vídeo em defesa da corporação, afirmando que o grito de guerra é uma expressão interna de motivação entre policiais, e não uma incitação ao crime.
No entanto, especialistas em direito constitucional lembram que a Constituição autoriza o uso legítimo da força pela polícia, mas impõe limites rigorosos, com a necessidade de julgamento legal para qualquer condenação. O discurso de violência pode representar risco à ordem constitucional e aos direitos individuais.