É uma explosão de vídeos. Quase toda semana é possível acompanhar na imprensa local algum vídeo em que pessoas avistaram uma onça-pintada no Pantanal. Esses vídeos geram milhares de visualizações e engajamento, mas também provocam outro impacto, que não é tão favorável a um dos animais mais incríveis da região.
O que está acontecendo no Pantanal é paradoxal e silencioso, quase imperceptível, o cerco diário de dezenas de embarcações turísticas às onças-pintadas.
O ecoturismo, que surgiu como uma poderosa ferramenta de conservação ao valorizar a onça viva, agora mostra sua faceta perigosa quando praticado sem controle. Pesquisadores alertam que o estresse crônico causado pelo excesso de barcos está se tornando um “novo predador” para a espécie.
Sinais de estresse no maior felino das Américas
Estudos em andamento já captam os impactos negativos. Ao serem cercadas por até 30 barcos, muito acima do limite recomendado de 5, as onças exibem claras mudanças de comportamento. Elas interrompem atividades essenciais, como caça e hidratação, e adotam posturas defensivas: rosnam, batem a cauda e arreganham os dentes.
O problema vai além do comportamento visível; análises preliminares indicam aumento nos níveis de hormônios do estresse, o que pode debilitar seu sistema imunológico e afetar sua capacidade reprodutiva.
A lacuna entre a regra e a realidade
Apesar de existirem normas que determinam distância mínima de 30 metros e limite de embarcações por animal, a fiscalização no vasto território pantaneiro é insuficiente. Na prática, a cena comum é de uma aglomeração de barcos competindo pela melhor foto, transformando um avistamento em situação de estresse intenso para o animal.
Encontrando o equilíbrio: como ajudar?
A solução não é acabar com o turismo, mas sim praticá-lo com mais responsabilidade. A atividade é vital para a economia local e foi crucial para reduzir a caça predatória. O desafio é encontrar um equilíbrio. Especialistas defendem:
- Fiscalização rigorosa nos rios, com agentes ambientais presentes.
- Sistemas de rodízio para evitar aglomerações.
- Conscientização de guias e turistas para priorizar o bem-estar animal acima da foto perfeita.
- Expansão dos roteiros turísticos para outras áreas, aliviando a pressão nos pontos mais populares.
A preservação da onça-pintada depende de um pacto entre operadores, turistas e poder público. É preciso garantir que nossa admiração não se torne, inadvertidamente, a sua maior ameaça.
Fonte: Esta reportagem foi baseada no artigo “In Brazil’s Pantanal, too many tourists may be the jaguar’s new predator”, publicado por Mongabay News em setembro de 2025.