Consumo por impulso aumenta no fim do ano e especialista alerta para riscos financeiros e emocionais
Com a Black Friday se estendendo por vários dias, vitrines virtuais anunciando “frete grátis” e a chegada do 13º salário, o fim de ano cria o cenário perfeito para o famoso “eu mereço”. Entre promoções, metas pessoais e a pressão social de presentear, muitos brasileiros acabam cedendo ao consumo impulsivo.
Segundo o psicólogo cognitivo-comportamental e neurocientista Jefferson Morel, esse comportamento é comum nesta época, mas pode evoluir para um problema sério quando foge do controle. “O que começa como uma recompensa vira uma armadilha. A impulsividade domina o planejamento, e aí a gente já tem um problema”, explica.
Cérebro cansado e propaganda intensa: combinação perigosa
Morel detalha que, ao final do ano, o cérebro está esgotado após meses de pressões e rotinas intensas. Esse desgaste favorece a ativação do sistema de recompensa, responsável pela liberação de dopamina, o que torna as compras ainda mais atraentes.
“É muita propaganda, é o ‘só hoje’, ‘não pode perder’. Esse conjunto pressiona um cérebro já fadigado. O 13º chega como um estímulo final”, afirma o especialista.
Dados apresentados na entrevista apontam que 7 em cada 10 brasileiros compram por impulso e depois se arrependem.
Quando o alerta deve acender
O psicólogo destaca que a compulsão por compras tem sinais claros:
- sensação de prazer imediato seguida por culpa, raiva ou frustração;
- repetição dos mesmos erros financeiros;
- incapacidade de seguir um planejamento;
- impacto emocional e familiar.
Em muitos casos, diz Morel, a pessoa não percebe o problema, e quem identifica são os familiares, especialmente quando compromissos financeiros são afetados repetidamente.
O que fazer para evitar compras por impulso
Morel recomenda estratégias simples, mas eficazes:
- Pergunte-se: é desejo ou necessidade?
- Adie a compra por 24 horas: a técnica reduz em até 70% as compras impulsivas.
- Evite gatilhos: desinstalar aplicativos ou silenciar notificações pode ajudar.
- Planeje o 13º salário: definir previamente o destino do dinheiro evita excessos.
“O prazer da compra dura segundos. A consequência pode durar meses”, destaca.
Quando buscar ajuda profissional
A recomendação é procurar avaliação psicológica quando as compras passam a comprometer o orçamento, gerar conflitos familiares ou ocorrerem de forma repetitiva e descontrolada. “Não é falta de caráter, é uma questão neurobiológica. Muitas vezes há baixa conectividade na região do córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisão”, explica o especialista.
Com a chegada do Natal e das festividades, Morel reforça: “Pesquise, planeje e evite excessos. O ‘eu mereço’ existe, mas dentro do limite do seu bolso”.









