Soltura de mosquitos com Wolbachia reduz casos de dengue em Campo Grande, aponta estudo

Soltura de mosquitos com Wolbachia reduz casos de dengue em Campo Grande, aponta estudo
Médico infectologista e pesquisador da Fiocuz, Júlio Croda / Foto: Roberta Dorneles

Campo Grande registra queda de 63% na dengue após uso de mosquitos com Wolbachia

A estratégia de soltura em massa de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia resultou em uma queda expressiva nos casos de dengue em Campo Grande. Segundo análise publicada na revista The Lancet Regional Health – Americas, a cidade registrou redução de 63% na incidência da doença em 2024 nas áreas onde a bactéria atingiu prevalência estável.

A tecnologia consiste em introduzir a Wolbachia, bactéria presente naturalmente em cerca de 60% dos insetos, no Aedes aegypti. Quando coloniza o mosquito, ela impede a multiplicação dos vírus da dengue, zika e chikungunya, reduzindo a transmissão.

O médico infectologista e pesquisador da Fiocuz, Júlio Croda, destacou que Campo Grande se tornou referência nacional na adoção da tecnologia. Mais de 80% dos mosquitos coletados já apresentavam Wolbachia nas regiões atendidas após as intervenções realizadas entre 2020 e 2023.

Croda explica que a eficácia está relacionada ao engajamento entre órgãos públicos e instituições científicas. A estratégia integrou esforços da Fiocruz, Ministério da Saúde, Prefeitura de Campo Grande e do Governo do Estado, que estruturou a biofábrica responsável pelos mosquitos utilizados no projeto.

A capital sul-mato-grossense foi uma das três primeiras cidades brasileiras a receber a intervenção, ao lado de Foz do Iguaçu e Petrolina. Para o pesquisador, o trabalho conjunto permitiu que a tecnologia fosse aplicada em larga escala e se mostrasse eficiente mesmo diante da maior epidemia de dengue já registrada no país em 2024.

O monitoramento segue sendo fundamental. Croda ressalta que a prevalência da Wolbachia precisa permanecer acima de 60% para manter a proteção, mas experiências de outras cidades mostram que o efeito tende a ser duradouro, mesmo sem novas solturas.

Além da tecnologia, o infectologista reforça que o controle da dengue depende de um conjunto de ações: vacinação, combate aos focos do mosquito e organização dos serviços de saúde. Ele destaca ainda que o avanço científico tem papel decisivo no combate às doenças transmitidas por mosquitos, com novas ferramentas sendo estudadas e potencial para ampliar a proteção da população nos próximos anos.

Confira a entrevista completa com o pesquisador:

Assista a Blink ao vivo.

Compartilhe o texto: