Vereador Papy defende diálogo e fiscalização como pilares da gestão na Câmara de Campo Grande
Em uma entrevista exclusiva ao programa “Café com Blink”, o presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Papy, abordou temas cruciais para a cidade, desde a iminente votação do veto às emendas parlamentares destinadas a entidades sociais até a desafiadora gestão de uma Câmara diversa e a polêmica CPI do Consórcio Guaicurus. O vereador destacou a importância do diálogo, da fiscalização e da busca por soluções conjuntas para os problemas da capital sul-mato-grossense.
Veto das emendas e apoio às entidades sociais
Papy iniciou a conversa enfatizando a responsabilidade da Câmara com as instituições do terceiro setor, que, segundo ele, prestam serviços essenciais de saúde e assistência social que o Estado não consegue suprir sozinho. “A Câmara não pode virar as costas para essas pessoas, para essas instituições”, afirmou o vereador. Ele classificou as emendas parlamentares como uma prerrogativa legítima do Legislativo para influenciar o orçamento público, e apontou falhas na comunicação da Secretaria de Finanças em relação ao não recebimento de recursos. A expectativa é que a maioria dos vereadores vote pela derrubada do veto, garantindo os quase nove milhões de reais para as entidades que atendem mais de 20 mil pessoas.
Relação com a prefeitura: Harmonia com fiscalização
Questionado sobre a relação com a Prefeitura, Papy defendeu a necessidade de um trabalho conjunto, apesar da autonomia dos poderes. “Precisamos trabalhar de forma conjugada para o bem das pessoas”, ressaltou. Ele destacou que os problemas da cidade são compartilhados e que a Câmara tem cumprido seu papel de fiscalizadora, com a realização de CPIs e requerimentos. A mediação com o Executivo, grande parte sob sua responsabilidade, tem avançado em um “caminho positivo, institucional, sempre respeitoso, harmônico, mas sem diminuir a questão da cobrança, da fiscalização”.
Desafios da Presidência e o Diálogo como Ferramenta
Presidir uma Câmara com tamanha diversidade, que inclui parlamentares de diferentes partidos como PT e PL, e figuras políticas experientes como o ex-prefeito Marquinhos Trad, é um desafio, segundo Papy. Ele enfatiza o respeito e a admiração pelos colegas e utiliza o diálogo como principal ferramenta de trabalho. “Prefiro a construção do diálogo, prefiro estar ali com os parlamentares e dar a voz para essas pessoas, porque quando um parlamentar fala ali no microfone da Câmara, ele está falando pela população de Campo Grande”, explicou. Papy mencionou a composição da Mesa Diretora com membros de partidos antagônicos, demonstrando o espírito democrático da sua gestão.
Polêmica do aumento salarial da prefeita e a saúde dos servidores
Sobre a polêmica aprovação do aumento salarial da prefeita, o vereador Papy esclareceu que a medida, debatida desde 2023, não foi uma urgência, mas sim uma solução para um problema que se arrastava há 12 anos. O aumento, que foi inclusive contestado pela própria prefeita, visa permitir o reajuste inflacionário para cerca de 400 servidores públicos concursados que têm seus salários atrelados ao teto do Executivo. Papy destacou o acordo “maduro e robusto” com a Prefeitura, MP, TJ e sindicatos para definir um patamar salarial nacional e escalonamento para os servidores, visando garantir a justiça salarial para essas categorias.
Operação Tapa-Buraco e a necessidade de planejamento
Em resposta a uma pergunta de um ouvinte sobre a ineficácia do tapa-buraco com “bica corrida”, Papy reconheceu as dificuldades, explicando que a solução foi um paliativo diante da proporção dos buracos após as chuvas torrenciais. No entanto, o vereador criticou a falta de planejamento preventivo da gestão municipal. “As chuvas elas são esperadas todos os anos e é preciso você fazer trabalho preventivo”, pontuou. Ele assegurou que os vereadores estão atuando ativamente, seja acompanhando as obras ou cobrando melhorias nas diversas regiões da cidade.
CPI do Consórcio Guaicurus: Transparência e soluções para o transporte
A CPI do Consórcio Guaicurus, que muitos previam que “acabaria em pizza”, tem surpreendido com suas oitivas e depoimentos, virando manchete e gerando polêmica. Papy expressou otimismo, classificando o trabalho como de “alto nível” e elogiando o empenho dos membros da CPI em não politizar a investigação. O objetivo é entregar à sociedade transparência sobre o transporte coletivo e “renovar a esperança de uma solução”. Ele antecipa que a CPI apresentará sugestões ao Ministério Público, Prefeitura, Agetran e ao próprio consórcio, e que a gestão municipal tem acolhido bem as propostas. O vereador defendeu a atuação da CPI como um “berço” para novos projetos de lei que visem aprimorar a regulamentação das agências de transporte.
Papy também abordou a mobilidade urbana, defendendo a necessidade de um plano amplo para os próximos 30 anos, que priorize o transporte coletivo sobre o individual e inclua investimentos em ciclovias e outras infraestruturas. Ele defendeu a concessão do serviço de transporte a agentes privados, ressaltando que, embora o contrato atual do Consórcio Guaicurus seja juridicamente forte, é preciso buscar modelos de contratos com maior mobilidade para evitar prejuízos e garantir a qualidade do serviço.
Papy ressaltou que, embora o contrato atual do Consórcio Guaicurus tenha mais sete anos de validade e seja “muito forte juridicamente”, a Câmara não deve se omitir. “O business [negócio] de transporte por ônibus no Brasil inteiro está um pouco obsoleto, e esse modelo de concessão está sendo questionado no Brasil inteiro”, pontuou o presidente. Ele argumentou que, assim como o Governo do Estado tem feito concessões para rodovias, é preciso pensar em soluções que utilizem a expertise da iniciativa privada.
“Não faz sentido você tirar o dinheiro da saúde, da educação, da assistência social para fazer estrada, porque é um dinheiro muito alto. Então, você faz uma concessão ao agente privado que explora esse serviço e ele custeia”, explicou, fazendo um paralelo com o pedágio, que, para ele, é aceitável se o serviço entregue for de qualidade.
O vereador enfatizou que a integração com o setor privado não é negativa, mas sim uma “forma moderna de se fazer gestão”. O problema, segundo ele, reside em contratos que “prejudicam a sua própria administração”, citando o caso da CCR Vias, que está sendo reformulado.
“Em sete anos que a gente tem consórcio com o Guaicurus, vai ter concessões para o futuro. Esse modelo está bem pacificado. Mas você precisa fazer contratos que tenham mobilidade”, defendeu. Papy levantou questões cruciais para o futuro do transporte coletivo em Campo Grande: “Esse negócio deixou de ser vantajoso, as pessoas pararam de usar o ônibus, perderam os clientes, vamos colocar isso assim. Então, nós temos que ter uma forma para não perder o investimento do transporte. Como que a gente faz? Subsídio? Uma outra fonte? Traz um segundo parceiro, uma segunda empresa? Divide os lotes? Diminui a frota?”.
As indagações do presidente da Câmara refletem a complexidade do desafio e a urgência de se encontrar um caminho que garanta um serviço de transporte público eficiente e sustentável para Campo Grande, reforçando o compromisso da Casa de Leis em buscar soluções para um dos problemas mais latentes da população.
Confira a entrevista completa:








Presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Papy – Fotos: Roberta Dorneles/Blink 102FM