Crise na saúde: Secretária de Saúde, Rosana Leite detalha superlotação de UPAs e batalha por novos leitos e ambulâncias em Campo Grande

Crise na saúde: Secretária de Saúde, Rosana Leite detalha superlotação de UPAs e batalha por novos leitos e ambulâncias em Campo Grande
Secretária Municipal de Saúde de Campo Grande, Rosana Leite - Foto: Roberta Dorneles/Blink 102FM

Secretária de Saúde de Campo Grande detalha crise de leitos e situação de emergência

A Secretária Municipal de Saúde de Campo Grande, Rosana Leite, abordou em entrevista a complexa situação da saúde na capital, incluindo a decretação de emergência devido à superlotação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e a crônica falta de leitos hospitalares. A gestora defendeu as medidas adotadas e detalhou os esforços para mitigar os desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) local.

Declaração de Emergência e Alerta à População

Questionada sobre a necessidade de decretar situação de emergência, uma medida que gerou debate entre profissionais da área, Rosana Leite esclareceu que a decisão não foi arbitrária. “Não é que a doutora Rosana de repente acordou e falou, ‘Ana, hoje eu quero fazer uma situação de emergência'”, afirmou. A secretária explicou que a medida segue regulamentos sanitários internacionais e portarias ministeriais, sendo fundamentada em duas situações críticas: a epidemiológica e a de desassistência devido à falta de leitos.

Leite destacou que, desde março, a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU) monitora o cenário através do Centro de Operações de Emergência (COE), que subiu para o nível de alerta (nível um) em 28 de abril. A secretária refutou a ideia de que o alerta geraria pânico na população, defendendo que, ao contrário, ele serve para conscientizar e incentivar a adesão a medidas preventivas, como vacinação e higiene. “A população, ela entende, ela vai se vacinar, ela vai ter cuidados melhores na toalete respiratória, vai usar as máscaras”, enfatizou.

A secretária também alertou para o aumento da virulência de vírus respiratórios em Campo Grande. O mesmo vírus que causava uma gripe leve no ano passado agora exige mais tempo de internação devido à maior gravidade dos sintomas.

Crise crônica de leitos e busca por soluções

A falta de leitos hospitalares foi apontada por Rosana Leite como uma “doença crônica” em Campo Grande, persistente há mais de dez anos. Atualmente, a cidade conta com 3.080 leitos, mas apenas 58% são destinados ao SUS, enquanto o restante pertence à rede privada, que também enfrenta superlotação. A secretária estimou que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Campo Grande necessitaria de aproximadamente 500 leitos adicionais, considerando as especialidades e demandas específicas.

A cidade enfrenta uma “tripsepidemia”, lidando com doenças crônicas (como diabetes e hipertensão), um alto número de acidentes automobilísticos que ocupam leitos de trauma, e a reemergência de doenças infecciosas, como a dengue. A consequência direta da falta de leitos é a permanência prolongada de pacientes nas UPAs, que deveriam servir apenas para estabilização por 24 horas. Na última noite, 201 pacientes aguardavam um leito hospitalar nas UPAs.

Hospital Municipal: Promessa eleitoral?

Sobre o tão aguardado Hospital Municipal, a secretária assegurou que o projeto não é apenas uma promessa eleitoral. “De jeito nenhum, muito pelo contrário”, garantiu. O processo licitatório está em andamento na Secretaria de Compras, e uma empresa já demonstrou interesse. A expectativa é que, em dois a três meses, a fase de apresentação e análise do projeto executivo seja concluída, dando início à construção. A previsão é que o hospital seja entregue até o final da atual gestão. Além disso, o Governo do Estado também anunciou a ampliação do Hospital Regional em parceria público-privada.

Desafios no financiamento da saúde e abastecimento de insumos

Em relação ao financiamento da saúde, Rosana Leite destacou que, embora a prefeitura invista 33% de seu orçamento na área (o mínimo constitucional é de 15%), o modelo tripartite do SUS (financiamento federal, estadual e municipal) tem sobrecarregado os municípios. A secretária informou que o Ministério da Saúde deve repassar quase R$ 500 mil para Campo Grande, embora a portaria ainda não tenha sido publicada, e o Governo do Estado destinará R$ 3,5 milhões.

Quanto à falta de fitas de glicemia, a secretária confirmou a escassez e explicou que o problema está ligado à logística de entregas e aos processos licitatórios. Apesar de 96% das atas de registro de preço estarem em dia, a dependência de fornecedores de fora da cidade e eventuais atrasos podem impactar o abastecimento. Leite prometeu verificar a situação da fita de glicemia, que estava programada para durar todo o mês de junho.

Polêmica das ambulâncias paradas e reestruturação do SAMU

A secretária também respondeu à polêmica levantada pelo deputado federal Geraldo Resende sobre onze ambulâncias do Ministério da Saúde que estariam paradas. Leite criticou o que chamou de “desserviço à população”, lembrando a situação precária do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) há cerca de um ano, com ambulâncias sucateadas e longos tempos de espera.

A frota do SAMU não era renovada desde 2019/2020, e as ambulâncias recebidas em dezembro (seis para reposição e seis para ampliação de frota, além de uma avançada) necessitam de processos administrativos para emplacamento, seguro e manutenção antes de poderem rodar. A prefeitura optou por alugar 11 ambulâncias (dez de serviço e uma de retaguarda, incluindo uma 4×4) por cerca de R$ 15 mil mensais cada, englobando manutenção, seguro e emplacamento.

O contrato de aluguel vence em julho, e a secretária informou que estão analisando a prorrogação, especialmente para a ambulância 4×4, devido à necessidade de atendimento em áreas rurais. Atualmente, todas as ambulâncias recebidas estão no prazo para iniciar as operações, e o SAMU tem apresentado uma melhora significativa no tempo de resposta e eficácia.

A secretária Rosana Leite finalizou a entrevista reiterando o compromisso da gestão com a saúde pública, apesar dos desafios, e a importância da comunicação transparente com a população.

Confira a entrevista completa:

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