Na edição especial do Café com Blink, recebemos o professor e diretor Fernandes Ferreira, nome fundamental do teatro musical em Mato Grosso do Sul. Ele foi o responsável pela direção do espetáculo “Tia Eva”, apresentado recentemente no Sesc Teatro Prosa, e que emocionou o público ao trazer para os palcos a história de uma das grandes personalidades negras de Campo Grande.
Logo no início da conversa, Fernandes esclarece: muita gente acha que seu nome é Fernando, mas o nome correto é Fernandes Ferreira — com “s” no final. A entrevista mergulha nos bastidores da produção e principalmente na trajetória de Tia Eva, mulher negra, alforriada, que chegou a Campo Grande no início do século XX com três filhas e um espírito de liderança que marcou gerações.
Tia Eva, como relembra Fernandes, foi parteira, professora, doceira e lavadeira. Com trabalho e solidariedade, criou uma comunidade acolhedora para negros recém-chegados à cidade. É o embrião do que hoje conhecemos como a comunidade São Benedito, formada exclusivamente por seus descendentes. Já outras famílias que vieram com ela deram origem a outras comunidades tradicionais, como as Furnas do Dionísio e dos Baianos.
Durante a entrevista, o diretor levanta uma questão importante: há teses e documentos que indicam que Tia Eva chegou à cidade antes mesmo do fundador oficial, José Antônio Pereira — fato muitas vezes ignorado ou apagado da historiografia tradicional. “Mais do que disputar quem chegou primeiro, precisamos reconhecer o legado dessa mulher negra como uma das construtoras de Campo Grande”, afirma Fernandes.
O bate-papo também abordou os desafios enfrentados pelos artistas locais. A escassez de teatros e a dificuldade de conseguir pautas acessíveis ainda limitam o alcance das produções. O musical foi encenado por três dias no Sesc, com casa cheia e forte repercussão do público, mas o diretor reforça: “Teatro ao vivo precisa de tempo em cartaz. Quanto mais tempo, melhor ele fica.”
Fernandes, que comanda o projeto de extensão Arrebol Cultural na UEMS, ressalta o papel essencial de patrocínios, espaços acessíveis e apoio institucional para garantir que espetáculos de alto nível continuem sendo produzidos. E também compartilha sua visão sobre o teatro musical: um gênero capaz de emocionar, provocar reflexões e transformar o olhar de quem assiste.
A escolha do elenco para “Tia Eva”, segundo ele, foi pensada com carinho e realismo. A protagonista, interpretada por Jayuda, trouxe ao palco verdade, sensibilidade e entrega — mesmo sem experiência prévia. “A gente queria uma senhora real, que tivesse conexão com a história”, conta Fernandes.
A entrevista encerra com um convite aos empresários e ao público: apoiem o teatro local e ajudem a manter vivas as histórias que moldam nossa identidade.
Assista à entrevista completa com Fernandes Ferreira no canal da BlinkFM no YouTube: