Trump mira Índia e acende alerta para o Brasil: sobretaxa pode impactar fertilizantes, diesel e o agronegócio
Durante o quadro Um Café, Uma Entrevista, o professor Leandro Tortosa, especialista em comércio exterior da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), analisou o impacto da nova sobretaxa imposta pelos Estados Unidos à Índia e o risco real dessa medida atingir também o Brasil.
Segundo Tortosa, a justificativa de Donald Trump para aplicar uma tarifa de 25% sobre produtos indianos – totalizando 50%, como já ocorre com o Brasil, está ligada à compra de combustíveis e fertilizantes russos. “Os EUA entendem que qualquer país que contribua direta ou indiretamente para a economia da Rússia durante a guerra contra a Ucrânia deve ser punido. A Índia, grande compradora de combustíveis russos, foi o alvo da vez. E o Brasil também compra”, alertou o professor.
O especialista lembrou que, após o governo Dilma, o Brasil deixou de ser autossuficiente na produção de fertilizantes, passando a importar 80% do insumo, principalmente da Rússia. O mesmo ocorre com o diesel. “Grande parte do diesel que usamos aqui é importado da Rússia. Se houver sobretaxa, o impacto será direto no agronegócio e na logística, já que nosso transporte é majoritariamente rodoviário”.
Outro ponto destacado foi a sensibilidade dos preços ao consumidor. “Qualquer alteração no custo do diesel, por exemplo, afeta diretamente o frete e, por consequência, o preço nas prateleiras, algo muito sentido por nós aqui no Mato Grosso do Sul”.
Apesar das tensões, Tortosa afirma que o mercado reagiu melhor do que o esperado, a Bolsa brasileira subiu, o dólar caiu e o risco Brasil diminuiu. Isso se deve, em parte, ao movimento global de queda na taxa de juros dos EUA, que levou investidores a buscar países como o Brasil.
Quanto ao futuro, o professor acredita que o estilo agressivo de Trump nas negociações, com ameaças seguidas de recuos – está moldando um novo cenário geopolítico. “O multilateralismo está sendo substituído por relações mais diretas e fechadas. Blocos como os BRICS estão se fortalecendo, enquanto instituições como a OMC perdem relevância”.
Em relação à ação brasileira na OMC contra a sobretaxa dos EUA, Tortosa foi direto: “É um gesto simbólico, mas de pouco efeito prático. A OMC está enfraquecida”.
Por fim, ele destacou que o Brasil precisa usar inteligência estratégica para negociar com os Estados Unidos, colocando na mesa temas como terras raras, regulação das big techs e o etanol brasileiro, valorizado por sua eficiência ambiental. “Trump é pragmático. Ele quer resultados. Se o Brasil quiser evitar impactos econômicos mais graves, vai precisar entrar no jogo com boas cartas na mão”.