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Amor tóxico: como lidar?

Quando meninos e meninas chegam à adolescência, eles são frequentemente expostos a mensagens que associam atração com violência. Essas mensagens, vindas de amigos, séries de TV, filmes, músicas e redes sociais, promovem a ideia de que garotos com atitudes violentas e desrespeitosas em relação às meninas são mais atraentes. Em contraste, aqueles que tratam bem as garotas não são vistos da mesma forma.

Um exemplo dessa narrativa pode ser encontrado no filme After (2019), baseado em um romance de 2014. A protagonista começa o filme namorando um “bom rapaz” no ensino médio, mas o vê mais como amigo do que amante. Ao entrar na faculdade, ela o trai com um “bad boy” mais interessante. Quando o namorado reage de maneira compreensiva, ele parece ainda mais fraco e inseguro. Mesmo após descobrir que o novo parceiro estava com ela por causa de uma aposta, o interesse por ele não diminui, já que, no final, ele parece “se apaixonar de verdade”.

Dominância e Coerção

Essas mensagens que ligam atração a comportamentos violentos fazem parte de um fenômeno conhecido como “discurso dominante e coercitivo”. Ao serem expostas a essas ideias por muito tempo, as meninas passam a ver garotos violentos como mais atraentes, o que pode levá-las a relacionamentos tóxicos, tanto emocionais quanto sexuais.

Um estudo recente analisou como esse discurso se manifesta entre colegas adolescentes, muitas vezes conduzindo as meninas a “encontros desprezíveis” com garotos que as tratam mal e apresentam comportamentos abusivos.

Pressão dos Colegas e o Desejo de Pertencer

As amizades são fundamentais na adolescência, e a pressão dos pares pode empurrar as meninas para relacionamentos indesejados com rapazes agressivos. Essa pressão social reforça a ideia de que os meninos “durões” são mais interessantes, fazendo com que muitas adolescentes acreditem gostar de parceiros com essas características. O comportamento violento, com o tempo, é normalizado e até confundido com amor, o que as torna mais vulneráveis a relacionamentos abusivos.

Além da pressão dos colegas, as mensagens da mídia contribuem para essa percepção. Uma adolescente entrevistada no estudo mencionou uma série em que uma garota namorava um rapaz que a tratava mal, enquanto ignorava outro garoto gentil que sempre cuidava dela.

O Perigo de Ser “Chata”

Mesmo meninas em relacionamentos saudáveis com rapazes não violentos são rotuladas como “chatas” pelos colegas e incentivadas a trair seus namorados por parceiros mais agressivos. Essa pressão social cria um ciclo em que, para evitar serem vistas como entediantes ou perderem amizades, as adolescentes se envolvem com garotos que as tratam mal.

Essa dinâmica pode ser ampliada com assédio digital, como quando colegas tiram fotos de uma menina com um garoto e espalham boatos, prejudicando a reputação dela e seu relacionamento. Essas ações podem ter sérias consequências emocionais, incluindo risco de depressão e até suicídio.

Consequências para a Saúde

A violência de gênero tem consequências graves para a saúde das vítimas, como dores crônicas, maior risco de doenças sexualmente transmissíveis, depressão e pensamentos suicidas. Aproximadamente 27% das mulheres entre 15 e 49 anos já sofreram alguma forma de violência física ou sexual, o que reforça a importância de identificar e combater os fatores que aumentam o risco de agressividade de gênero.

O estudo também revelou que relacionamentos desrespeitosos normalizam comportamentos tóxicos entre adolescentes, fazendo com que as meninas continuem se sentindo atraídas por esses parceiros. Quando essas histórias são compartilhadas publicamente ou nas redes sociais, a humilhação pode ter efeitos duradouros e devastadores.

O Papel dos (Bons) Amigos

Embora a pressão dos colegas possa levar meninas a se envolverem em relacionamentos abusivos, um bom círculo de amizades pode atuar como proteção. No estudo, algumas meninas mencionaram o medo de perder amigos, mas também relataram casos de “falsos amigos” que as empurraram para relações indesejadas.

Investir em amizades saudáveis desde cedo pode ser uma estratégia importante na prevenção da violência de gênero, ajudando as meninas a evitarem relacionamentos tóxicos e protegendo sua saúde emocional e física.

Com informações de The Conversation.

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