A fumaça das queimadas que toma conta de Campo Grande ocultou nosso maior cartão-postal: o céu.
Os incêndios que se alastram pelo Brasil têm criado um cenário devastador. Milhares de quilômetros de biomas protegidos, florestas nativas, parques, a Amazônia e o Pantanal estão começando a desaparecer devido ao fogo. Esse desaparecimento que se acelerou como nunca visto vem acompanhado pela morte dos animais que habitam essas áreas. Sem terem como escapar do fogo muitos agonizam sem ser vistos ou ouvidos. Nem mesmo a visão desse sofrimento, amplamente divulgada por grupos de resgate, voluntários e pessoas ligadas a proteção dos animais, é capaz de nos desacomodar de forma suficiente para podermos exigir o fim desse panorama, por isso talvez o fim chegue antes do fim. Como a maioria das queimadas é provocada por ação humana, somos os grandes responsáveis por essa trágica “fotografia” congelada sobre nossas cabeças a muitos dias. Não precisamos ser a mão que ateia o fogo; o simples fato de estarmos inertes, paralisados e incrédulos assistindo ao nosso mundo queimar, nos adoece, nos tira as forças, mas também nos faz cúmplices.
Não, não olhe para cima! O que você verá nesta em 2024 é triste. Não olhe para cima porque não verá o céu azul, aquele que nos enche de alegria. Se você olhar, verá o resultado de anos de negligência com a natureza. Verá o perigo de ignorar os alertas dos especialistas sobre o clima da Terra. Verá nossas ações – ou a falta delas. O céu, sem cor, cinzento, escuro, quase moribundo e triste, é uma testemunha de acusação contra todos. E a acusação é gravíssima.
Entre os habitantes de Campo Grande, muitos guardam em suas lembranças – e em suas redes sociais – fotos do céu da cidade. Uma busca rápida comprova isso: o céu que conhecemos e amamos exibir com orgulho, azul, limpo e espetacular, está lá. Mas não hoje. Hoje é um dia triste para quem ama esse céu. Ele “desapareceu”. Não está mais azul, e não conseguimos mais contemplar a beleza que alivia nossas almas das lutas cotidianas.
Não, não olhe para cima! A fumaça, a fuligem, a poluição e as doenças estão aqui embaixo e podem permanecer por muito tempo, enquanto grande parte da humanidade não estiver disposta a mudar esse cenário sombrio.