Você já pensou para onde vai um produto depois de descartado? A Economia Circular propõe um novo olhar: em vez de simplesmente jogar fora, a ideia é reinserir esse item na cadeia produtiva, reduzindo o desperdício e prolongando o uso dos recursos. E o mais interessante é que empresas brasileiras estão crescendo com esse modelo — mesmo sem muito apoio governamental.
Um estudo publicado no Journal of Environmental Management, feito por pesquisadores da Unimar Business School, da USP e da francesa EM Normandie, analisou como as capacidades internas das empresas influenciam na adoção da Economia Circular e como isso impacta diretamente no desempenho e na resiliência organizacional.
O que é Economia Circular?
Ao contrário do modelo tradicional de “extrair, produzir, consumir e descartar”, a Economia Circular se baseia em reduzir o uso de matérias-primas virgens, reutilizar, reciclar e redesenhar produtos para que sejam duráveis, reaproveitáveis e mais sustentáveis desde a origem.
Na prática, isso significa adotar ações como:
- Ecodesign, com produtos planejados para serem reciclados ou reutilizados;
- Logística reversa, que permite que os itens retornem à empresa após o uso;
- Modelos de produto como serviço, como aluguéis ou assinaturas em vez da venda direta.
Exemplos não faltam: nos EUA, a Whirlpool oferece máquinas de lavar por assinatura e reutiliza os componentes. No Brasil, a Boomera transforma embalagens plásticas difíceis de reciclar em baldes, cabides e outros produtos.
Mesmo sem apoio, empresas avançam
A pesquisa ouviu 111 empresas brasileiras que já adotam alguma prática circular. Mesmo enfrentando falta de regulamentações e incentivos, elas mostraram que a Economia Circular pode ser implementada com bons resultados — e mais: ajuda a empresa a ser mais inovadora, reduzir custos e resistir melhor às crises.
Um dos achados mais relevantes foi que, mesmo com um “vácuo institucional” no Brasil, essas empresas estão conseguindo inovar e se destacar no mercado. As capacidades internas — como gestão estratégica, inovação e parcerias — são o que realmente fazem a diferença.
Resultados concretos
Além da questão ambiental, as empresas que investem em circularidade ganham eficiência, melhoram processos e se tornam mais resilientes. Conseguem enfrentar com mais força momentos de escassez, variações de mercado ou problemas na cadeia de suprimentos.
A pesquisa também apontou os obstáculos que ainda dificultam a expansão da Economia Circular no país: burocracia, ausência de incentivos fiscais e políticas públicas pouco efetivas. Para mudar esse cenário, os pesquisadores recomendam:
- Criação de incentivos fiscais específicos;
- Atualização de leis que dificultam o reaproveitamento de materiais;
- Maior integração entre governo, universidades e setor produtivo.
Economia Circular como futuro
Mesmo sem uma política nacional robusta, mais de 76% das indústrias no Brasil já adotam alguma prática circular. Isso mostra que é possível — e necessário — mudar a lógica da produção e do consumo.
Recentemente, o Brasil deu um passo importante com a criação da Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC) e novas normas técnicas da ABNT que ajudam as empresas a implementar esse modelo.
A Economia Circular não é só uma tendência sustentável — é uma estratégia de negócios, capaz de gerar valor, inovação e competitividade. E, no Brasil, ela já está acontecendo, mesmo que por enquanto, à base da força de vontade das próprias empresas.
Com informações de: theconversation.com