Brasil gasta R$ 20 bilhões com salários acima do teto em um ano
Um estudo internacional revelou que o Brasil ocupa o primeiro lugar em um ranking de supersalários no serviço público, quando comparado a dez países com perfil social e econômico semelhante. A análise identificou 53.488 servidores recebendo acima do teto constitucional, hoje fixado em R$ 46.366,19. Os dados fazem parte de uma amostra de cerca de 4 milhões de remunerações.
Entre agosto de 2024 e julho de 2025, esses pagamentos acima do limite custaram aproximadamente R$ 20 bilhões aos cofres públicos.
Judiciário concentra maior parte dos supersalários
Segundo o levantamento, o Judiciário é o setor com maior incidência: 79,9% dos juízes recebem acima do teto. Como resultado, 75% dos magistrados estão entre o 1% mais rico da população brasileira, com rendimentos suficientes para integrar o topo da distribuição de renda no país.
O estudo aponta ainda que quase 11 mil juízes tiveram rendimentos superiores a US$ 400 mil no período analisado, considerando a paridade de poder de compra, valor acima do observado em sete dos dez países comparados.
Além da magistratura, outros grupos também apresentam índices elevados de supersalários:
- Ministério Público: 70,4%
- Advocacia-Geral da União (AGU): 59,4%
Propostas para controlar excessos
O levantamento foi conduzido pelo Movimento Pessoas à Frente, em parceria com o República.Org, que propõe nove medidas para enfrentar o problema. Entre elas:
- Definir de forma clara quais verbas podem ser pagas acima do teto;
- Ampliar transparência sobre gratificações e pagamentos extras;
- Revisar adicionais, retroativos e gratificações para evitar abusos;
- Aplicar penalidades quando houver pagamentos sem respaldo legal, incluindo enquadramento por improbidade administrativa.
Em entrevista ao Café com Blink, Eduardo Couto, coordenador de conhecimento do Movimento Pessoas à Frente, afirmou que os supersalários “impactam a legitimidade do Estado e minam a confiança da população”. Segundo pesquisa encomendada ao Datafolha, 83% dos brasileiros defendem uma regulamentação efetiva sobre o tema.
Realidade da maioria dos servidores é diferente
Apesar dos altos valores concentrados em poucas carreiras, especialistas reforçam que essa realidade não representa a maioria do funcionalismo. Servidores de áreas como saúde, educação e assistência social enfrentam sobrecarga, salários baixos e condições de trabalho desafiadoras, ainda que desempenhem funções essenciais para o país.
O estudo destaca que controlar os supersalários é fundamental para reduzir desigualdades internas, garantir uso mais eficiente dos recursos públicos e restabelecer a autoridade do teto constitucional.









