Novas tarifas de Trump entram em vigor e causam efeitos imediatos na economia global
Começou hoje, segunda-feira, o primeiro dia útil das novas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Apesar de terem entrado em vigor no sábado, os impactos práticos começaram a ser sentidos somente agora, com o início da semana de trabalho no comércio global.
Mais de 50 países já solicitaram a renegociação das sobretaxas com os Estados Unidos. Enquanto isso, Trump pede paciência ao povo americano diante da inflação, que tende a subir ainda mais, segundo economistas. A alta dos preços, aliás, pode representar um risco político para o presidente, já que o controle inflacionário foi uma de suas principais promessas de campanha.
Medida provoca instabilidade nas bolsas, afeta preços globais e abre espaço para o Brasil ampliar exportações, especialmente para a China.
Neste fim de semana, protestos contra as medidas de Trump reuniram milhares de pessoas em mais de mil cidades nos EUA e também em países europeus. Os efeitos das tarifas anunciadas na semana passada já começam a se espalhar pelo mundo.
Em entrevista, o professor Leandro Tortosa, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), especialista em comércio exterior, explicou os impactos imediatos e os possíveis desdobramentos no mercado internacional.
Segundo ele, o curto prazo já mostrou um “derretimento” das bolsas de valores nos Estados Unidos e em outros países. Isso se deve ao fato de que, hoje, os produtos são fabricados com peças e insumos vindos de várias partes do mundo. Como exemplo, Tortosa citou a indústria de calçados e vestuário americana, que depende de fornecedores no Vietnã, e a aviação, que utiliza componentes feitos no Brasil e na Europa.
Cenário de cautela
Com o aumento do custo de produção, a expectativa é de que a inflação americana suba, forçando a manutenção de taxas de juros mais altas. Um dos efeitos imediatos foi a fuga de dólares para outros países, beneficiando temporariamente o Brasil, onde a cotação da moeda americana caiu ao menor nível dos últimos seis meses.
Esse cenário torna combustíveis e produtos importados mais baratos no curto prazo, mas pode se reverter no longo prazo. Com juros mais altos nos EUA, o capital tende a voltar para lá, encarecendo o dólar no Brasil e pressionando a inflação local, principalmente sobre commodities como trigo, soja e milho.
Apesar disso, o especialista também destacou oportunidades. A taxação sobre produtos brasileiros foi de apenas 10%, considerada baixa em comparação com a de outros países. A China, por exemplo, foi sobretaxada em 34% e respondeu com retaliações aos EUA, redirecionando parte de suas encomendas ao Brasil. Isso pode impulsionar as exportações brasileiras de soja, milho e carne.
No entanto, o aumento das exportações pode gerar alta de preços no mercado interno. O café, principal produto exportado para os EUA, tende a manter sua posição mesmo com tarifas, já que os concorrentes também foram taxados. O mesmo vale para o etanol: mesmo com o lobby do setor nos Estados Unidos, o produto brasileiro segue competitivo por sua eficiência produtiva.